Uma Segunda Chance: Capitulo II
Quando saí da sala do diretor fui á procura da minha irmã, como o colégio é grande tive de perguntar a cada aluno que passava por mim se a tinham visto. Até que fui dar com ela sentada nas escadas do portão da entrada principal da escola, sentei-me a seu lado olhando no vazio. Ficamos em silêncio durante alguns
minutinhos.
_O que se passa Susana?– Forcei a voz para sair calma e normal, mas mesmo assim tremi.
_ Nada, só queria estar sozinha. – Não olhou para mim, o seu olhar continuava fixo no vazio.
_ Porquê? – Senti uma onda de arrepio a assolar-me, será que já lhe tinham contado o sucedido? Mas quem?
_ Não sei bem, de repente na aula deu-me vontade de chorar, chorar muito. Então eu pedi á professora para ir á casa de banho, e vim para aqui. Mas continuo triste, porque Matilde? – Fiquei sem saber o que lhe responder, afinal ela tinha motivos mesmo para isso, mas ia ficar ainda pior depois de eu lhe contar. Mas
paciência, tinha mesmo de ser, não podia ocultar uma situação como esta da minha irmã.
_ Não sei Susaninha, talvez tenhas um sexto sentido muito apurado e tenhas sentido que aconteceu algo mau.
_O que aconteceu Matilde? – A minha irmã fintava-me agora com aqueles seus olhos grandes cor de avelã, a voz dela exaltou-se mais um pouco. Tentei procurar as palavras mais adequadas para não a fazer sofrer tanto.
_ Foi a Mãe… ela… ela teve um acidente de carro, e …
_ E ela está bem? Vamos vê-la agora no hospital?
_ Não sei se está bem, mas vai ficar, a mãe não nos vem buscar mais á escola Susana. – Vi os seus a encherem-se de lágrimas, abracei-a e chorei com ela.
Tinha de cuidar dela, tinha de a proteger, não podia perde-la também.
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Tinha acabado de levar a minha irmã contrariada á sala de aula. De fato não estava mesmo nada bem, custava-me vê-la assim e mandar-lhe para a aula.
Mas eu ficava mais tranquila se soubesse que ela estava ali, e que tínhamos combinado que a ia buscar á sala. Caminhava de novo pelo corredor a fora em direção á sala do diretor Lúcio. Quando o meu grupo de amigos veio ter comigo.
_Então Matilde, corremos a escola toda á tua procura. Onde é que te metes-te? – A Patrícia estava de braços cruzados a bater o pé, fazendo aquela cara de quem estava chateada, mas que não passava de uma brincadeira nossa.
A Patrícia é a minha melhor amiga, estamos juntas desde o infantário. É bastante ativa, risonha, aventureira, tagarela, e podia continuar a descreve-la mas ia
demorar muito tempo. O que posso dizer é que ela é mesmo uma verdadeira amiga e companheira que nunca me deixou. Desviei-me do meu percurso para me aproximar mais deles.
_ Que cara é essa Matilde? – O Bernardo sempre preocupado com os amigos e também sempre pronto a esticar uma mão para o ajudar.
Ele é um rapaz extremamente querido e doce, na turma gozam muito com ele por ser gorduchinho, mas não sabem que por trás dessa aparência está uma pessoa espetacular que se calhar irão precisar um dia.
_Não me pareces nada bem. Aconteceu alguma coisa? – Agora perguntava a Bia com
uma voz calma, fina e meiga.
A Beatriz é uma rapariga calma e muito inteligente, mais que eu a serio. Os nossos colegas chamam-na de sobredotada, mas não é, apenas esforça-se mais que todos nós. É também a mais baixinha da turma, mas ela não se importa com o que os outros dizem ou pensem. Tem uma personalidade forte e madura.
_ Sim, aconteceu. – Agora tudo iria ser diferente, e eu não sei se estava preparada ou se tinha forças para suportar a falta que já estava a sentir da
minha mãe, mais a responsabilidade da minha irmãzinha, ter que perder os meus amigos, e…
_ E o que foi, caramba? Desembucha, vá – E a Patrícia acabou com a minha tagarelice mental, com a sua impaciência.
_ Foi a minha mãe, ela…
_ Sim? Ela o que?
_ Pocha Patrícia tem calma, deixa ela falar.
_ Obrigada Bernardo! – E fiz-lhe um sorriso meio torto e continuei – A minha mãe, teve um fatal acidente. –Desmanchei-me em lágrimas outra vez, mas ainda assim consegui ver por uns segundos a cara dos meus amigos de chocados e preocupados. Logo a seguir a Patrícia abraçou-me com tanta força que mal conseguia respirar, e ia dizendo palavras confortantes.
_ Bem, então e agora? O que vos vai acontecer? – sequei as lágrimas com as costas da mão, para poder encarar e responder á pergunta da Bia.
_ E agora não sei, acho quem vem ai umas assistentes sociais para resolver o assunto, eu ia agora á sala do diretor saber isso.
_ As assistentes sociais? Isso é mau?
_ Não Patrícia, elas só vêm ajudar, afinal a Matilde e a Susana ficaram sozinhas.
_ Sim pois tá bem Bia tens razão, mas elas vãos vos levar para onde?
_ Sim, vocês não podem ir embora da escola. Nós vamos sentir muito a vossa falta. – Era tão bom poder tê-los ao pé de mim, e poder contar com eles e com o conforto que me tentavam dar. Eu também não queria os perder, aliás não quero perder mais ninguém, nunca mais.
_ Eu também vou sentir muito a vossa falta. – E cheguei-me mais perto do Bernardo para podê-lo abraçar também. – Mas eu não sei mesmo que vai acontecer
agora.
_ Bem então é melhor ires ver, não é? – A Bia sempre com a sua calma ajuda-nos a ver o que não conseguimos ver quando estamos exaltados.
_ Sim vou lá agora.
_ Queres que vá contigo?
_ Obrigada Patrícia, mas tenho de ir sozinha. – sorri-lhe e ela fez uma cara de quem compreendia.
_ Claro, nós compreendemos. Ficamos aqui á tua espera. – e o Bernardo voltou a abraçar-me.
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